A trajetória recente do Ibovespa em dólar destaca um dos maiores ganhos de mercado nos últimos anos, superando 50 % quando ponderado pelo real. Esse desempenho tem repercussões diretas para investidores estrangeiros e para a percepção global da economia brasileira. O fato de o índice registrar 32 % de valorização em reais enquanto o dólar cai 14 % no mesmo período eleva a rentabilidade real das ações brasileiras em aproximadamente 53 % em dólares, ultrapassando até mesmo o ouro, que teve 63 % de valorização no mesmo intervalo. Para o mercado interno, essa correlação positiva entre a valorização do real e do Ibovespa cria um cenário de atratividade que pode influenciar decisões de investimento e a captação de capital estrangeiro.

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Em termos macroeconômicos, a alta do índice se desenrola sobre um cenário de inflação moderada, em torno de 4 % no último ano, e de taxa básica de juros (Selic) de 13,75 % – a maior desde 2010 – que ainda mantém pressões sobre a liquidez e a demanda interna. Contudo, o Banco Central tem adotado uma postura de “hábito de combate à inflação”, deixando espaço para que a moeda se valorize diante da estabilidade dos preços e das expectativas de mercado. A taxa de desemprego, que se mantém em níveis próximos aos 9 % anteriores à pandemia, mostra sinais de recuperação, com a criação de mais de 200 mil empregos formais no último trimestre. Esses elementos combinam-se a um ambiente de crescimento econômico moderado, estimado em 2,5 % no último trimestre, o que reforça a capacidade das empresas listadas na B3 de sustentar lucros que, apesar do P/L atual de 11,5, já ultrapassam a média histórica de 10,5 % nos últimos 20 anos.

Comparado com outros mercados emergentes, a performance brasileira se posiciona na vanguarda. Países da série B e C apresentam ganhos semelhantes, com destaque para bolsas da África subsaariana, onde Gana, Zâmbia, Nigéria e Quênia lideram o ranking de crescimento. No Leste Europeu, mercados como Hungria, República Tcheca, Eslovênia e Polônia registram ganhos superiores aos do Ibovespa. Já o S&P 500, apesar de crescimento de 17 % no ano, permanece em torno de 24 % de ganho em 2023 e 23 % em 2024, mantendo o seu histórico de três anos consecutivos de crescimento em dois dígitos. O fato de o Ibovespa superar o S&P 500 em termos de retorno em dólar ressalta a efetividade de estratégias de diversificação de portfólio que incluem ações brasileiras, especialmente em contextos de volatilidade cambial.

Do ponto de vista prático, o aumento da valorização do Ibovespa em dólar implica que investidores internacionais podem obter retornos superiores mesmo após a dedução de custos de transação e impostos de saída. Para o mercado interno, a alta de 32 % em reais, aliada ao P/L relativamente baixo, sinaliza que as empresas listadas estão em condições de gerar lucros consistentes, porém, já não mais “baratas” quando comparadas à média do longo prazo. A perspectiva de 2026, portanto, envolve avaliar se a pressão sobre a taxa de juros continuará a moderar ou se o ciclo de valorização cambial pode se sustentar, influenciando ainda mais os preços das ações e a rentabilidade em dólar. O cenário, embora positivo, requer atenção constante a indicadores de inflação, política monetária e liquidez do mercado para que se mantenha a confiança dos investidores e a sustentabilidade do crescimento observado.

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