A política monetária, expressa através da taxa Selic, tem um impacto profundo no mercado financeiro brasileiro. Com a Selic atualmente em 15%, a maior em 19 anos, os investidores locais ainda não estão suficientemente animados para entrar no mercado de ações, o que contrasta com o comportamento dos investidores estrangeiros. Enquanto isso, o Ibovespa já acumula um ganho de 34% no ano, claramente beneficiando um grupo específico: os investidores estrangeiros.
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O contexto econômico atual é marcado por uma inflação persistentemente alta, o que levou o Banco Central a manter a taxa de juros em patamares elevados. Com isso, os ganhos na renda fixa ainda são suficientemente atrativos para reter os investidores brasileiros, que não veem motivos para se arriscar mais no mercado de ações. Isso é refletido nos números: o resgate dos fundos de ações soma R$ 52,8 bilhões até outubro, o que, se o ano acabasse hoje, já seria a maior retirada da série histórica, de acordo com dados da Anbima. Além disso, os dados da B3 mostram que, em novembro, os investidores individuais e institucionais reduziram suas posições, com os resgates dos institucionais (bancos e fundos) somando quase R$ 50 bilhões no ano. Por outro lado, os investidores estrangeiros voltaram a aportar dinheiro nas ações em novembro, injetando R$ 2,5 bilhões, e no ano, o saldo é positivo em R$ 28 bilhões.
Desde 2020, enquanto o varejo foi perdendo espaço na bolsa, foi esse grande grupo de investidores que tomou espaço: em cinco anos, o estrangeiro foi de 47% de participação nos negócios para 59%. Esse movimento significa que os investidores locais ainda não estão tão animados com a renda variável, mesmo com a bolsa batendo recorde atrás de recorde. O investidor de varejo está perdendo o rali da bolsa. A participação do investidor pessoa física no volume da bolsa chegou a representar 21,4% quando a Selic estava em 2%, em 2020; agora, a participação não chega a 12%. Embora a aposta de cortes nos juros a partir de 2026 venha ganhando força nas mesas de operação, gestores avaliam que isso ainda não é suficiente para fazer o fluxo mudar. É preciso que o BC de fato comece o ciclo de queda da Selic ou traga indicativos mais claros nessa direção.
Com esses números e tendências, o mercado aguarda as próximas decisões do Banco Central e os indicadores econômicos para entender como o fluxo de investimentos irá se comportar nos próximos meses. Enquanto isso, os investidores estrangeiros continuam a tirar proveito do mercado acionário brasileiro, que ainda oferece boas oportunidades de ganhos, especialmente em um cenário de recuperação econômica. A saída de recursos dos fundos de ações e a redução da participação dos investidores locais no mercado acionário refletem uma cautela que pode perdurar até que haja um cenário mais propício para o investimento em renda variável.