O Ibovespa rompeu a barreira simbólica de 160 mil pontos em 2 de dezembro de 2025, refletindo a convergência entre a expectativa de flexibilização monetária nos Estados Unidos e o início do ciclo de afrouxamento da política fiscal no Brasil. A marca inédita, registrada em meio a alta de 1,15% do índice no primeiro pregão do mês, traduz um ambiente de redução do prêmio de risco doméstico: investidores locais e estrangeiros precificam queda de 0,25 p.p. na taxa de juros americana na próxima reunião do Federal Reserve e o primeiro corte da Selic — hoje em 15% ao ano — já no primeiro trimestre de 2026. O movimento alivia o custo de capital das empresas com grande exposição ao mercado externo e amplia o diferencial de rentabilidade real das ações frente aos títulos públicos prefixados, cujos juros implícitos para cinco anos recuaram abaixo de 11% ao ano.
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O cenário doméstico, porém, ainda carrega tensões que condicionam a velocidade da desvalorização futura da curva de juros. A inflação medida pelo IPCA acumulada em doze meses até novembro situou-se em 4,6%, 0,9 p.p. acima do centro da meta para 2025, enquanto o núcleo de serviços avança 6,8% na mesma base de comparação, pressionado por salários reais que cresceram 2,4% em um ano de mercado de trabalho relativamente estável — a taxa de desemprego fechou outubro em 8,7%, mínima histórica para o mês. A autoridade monetária sinaliza que qualquer corte dependerá de “evidências claras de ancoragem das expectativas para 2026 e 2027”, linguagem que, na prática, condiciona o ciclo expansionista à convergência da projeção de inflação de mercado para 3,5% no horizonte relevante. O ambiente fiscal, por sua vez, segue no radar: o déficit primário acumulado em doze meses até setembro atingiu 0,75% do PIB, e o estoque da dívida líquida do setor público já representa 74,3% da produção nacional, nível que eleva o risco de necessidade de ajuste extra via tributação ou contenção de gastos no próximo ano.
Externamente, a valorização de 12% do dólar frente ao yuan desde junho, reflexo da política fiscal expansionista chinesa e da desaceleração do PIB do país para 4,9% em 2025, beneficia preços de minério de ferro e petróleo, commodities que respondem por 28% da pauta de exportações brasileiras. A combinação de alta das cotações com volume recorde de vendas externas de soja e açúcar eleva a corrente de comércio em 9% em doze meses, contribuindo para superávit externo próximo de 0,9% do PIB e para a acumulação de reservas internacionais que já somam US$ 355 bilhões. Esse quadro amorteche eventuais turbulências cambiais e permite ao Banco Central intervir no mercado a futuro para suavizar volatilidades sem comprometer o regime de metas de inflação. O câmbio, hoje em R$ 5,70/US$ 1,00, encontra-se 3% abaixo da média móvel de dois anos, fator que, somado à queda dos juros globais, reduz o custo de hedge de carteiras internacionais expostas ao real e alimenta a entrada líquida de US$ 8,4 bilhões em ações brasileiras registrada de janeiro a novembro.
O componente político completa o mosaico de variáveis que afetam o preço dos ativos. Pesquisa AtlasIntel/Bloomberg divulgada na véspera mostra aprovação de 39% e reprovação de 44% ao governo federal, inversão da relação observada no trimestre anterior. Para o mercado, a deterioração reduz a probabilidade de reeleição em 2026 e eleva a chance de agenda reformista focada no controle de gastos, cenário que historicamente comprime o prêmio de risco país. A percepção de alternância no poder, sem ruptura institucional, é tratada como ativo de valorização caso o próximo governo consolide regra fiscal com meta de resultado primário zero para 2027 e promova desestatização de empresas como Correios e Casa da Moeda, medidas que, segundo simulações de bancos de investimento, poderiam reduzir o risco-Brasil medido pelo CDS de cinco anos em até 60 pontos-base. O encontro entre o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, e o presidente russo, Vladimir Putin, para tratar de proposta de cessar-fogo na Ucrânia, embora sem impacto direto sobre variáveis locais, contribui para clima global de apetite por ativos de risco e mantém o VIX próximo de 14 pontos, patamar que historicamente canaliza capitais para mercados emergentes.