O movimento de bastidores que mais fala alto na moda desta temporada não é um novo tecido, mas a troca de comando no LVMH Fashion Group. A notícia de que Pietro Beccari assumirá, em 2026, o posto de Sidney Toledano coincide com o desfile de primavera de várias maisons do conglomerado — Celine, Givenchy e Loewe entre elas —, e já reverbera nos front rows com a mesma intensidade dos looks desfilados. O momento pede uma leitura estratégica do guarda-roupa: peças que traduzam a transição de eras, com pegada executiva, mas desconstruída, prontas para quem precisa migrar do escritório para um jantar de negócios sem parecer over ou underdressed.
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O casaco-trecho em lã-seda cinza antracite, com ombros desestruturados e botões ocultos, é o coringa dessa narrativa. Use-o sobre uma camiseta de malha fina na mesma paleta — o tom sobre tom acrescenta alongamento e apaga o clichê do terninho corporativo. Abaixo, vale calça cigarrete em twill elástico preto com 2% de elastano: cós alto que segura o abdômen, pernas afuniladas que deslizam dentro de botas de couro envernizado curtas, de bico quadrado. O truque de styling está em deixar o colarinho da camiseta sobre o paletó, como se fosse gola rolê, e acrescentar um cinto tressê fino por cima do blazer, mas deslocado para o quadril — uma referência direta ao styling das campanhas recentes da Vuitton sob Beccari, que gosta de deslocar proporções.
Para os dias em que a agenda exige mobilidade — showroom, voo interno, almoço de imprensa —, troque o blazer por parka técnica em nylon-dupla com capuz embutido. A mesma calça e bota funcionam, mas ganham ares de uniforme urbano se combinados a mochila de couro cru com alças de algodão encerado. O acessório que carrega o guarda-roupa de inverno para a transição climática é o lenço de cashmere cru com borda cru: enrolado duas vezes no pescoço, vira cachecol; aberto sobre os ombros, vira estola em voo noturno. O tom neutro amplifica a gama de cores que pode ser usada por baixo — desde o marsala da última coleção de Givenchy até o verde-oliva que desponta nos provadores de Celine.
A aposta em peças que comportem ressignificação é a resposta prática ao momento de inflexão do grupo. Um vestido-camiseta de seda acetinada com abertura frontal de botões de madrepérola, por exemplo, veste-se fechado como bata para reuniões de planejamento; aberto sobre calça de alfaiataria de linho, vira sobretaca leve para eventos ao ar livre. O material importa: seda com 17 momme garante queda pesada que não gruda no corpo, enquanto o linho com prensagem fácil mantém o frescor em temperaturas amenas. Quanto menos ornamentos, mais fácil é transitar entre os códigos que mudam conforme a nova direção criativa de cada maison — e, por ora, o understatement é o idioma universal que traduz confiança na virada de ciclo.