A Nippon Steel, maior produtora nipônica de aço, confirmou que pré-selecionará dois ou três estados norte-americanos até o fim do verão de 2025 para erguer uma usina de 3 milhões de toneladas por ano, com decisão final de localização prevista para início de 2027. O projeto será operado pela subsidiária United States Steel Corp., adquirida em junho por US$ 14,1 bilhões, e representa o principal vetor para atingir a meta corporativa de lucro de 1 trilhão de ienes (cerca de US$ 6,4 bilhões) no médio prazo. Para as empresas que orbitam a cadeia siderúrgica — fornecedores de minério, energia, logística e tecnologia — o movimento abre um leque de licitações que devem supercar as disputas já vistas na instalação Big River, em Arkansas, usada pela companhia como referência de escala.
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Do ponto de vista operacional, a escolha do site dependerá de três fatores críticos: preço e estabilidade do fornecimento elétrico (a nova planta usará fornos de arco-elétrico, mais limpos mas intensivos em energia), pacote de incentivos fiscais estaduais e capacidade de receber grandes volumes de matéria-prima. A empresa estima consumo equivalente a uma usina de médio porte, o que eleva a importância de dutos, portos secos e ferrovias com tarifas competitivas. Adicionalmente, o calendário de implementação coincide com a expiração dos acordos coletivos da US Steel com o sindicato United Steelworkers, em setembro de 2026; o histórico recente de litígio entre as partes sobre a aquisição adiciona complexidade às negociações de mão-de-obra e pode afetar prazo de ramp-up da nova fábrica.
Para o mercado norte-americano, o investimento reforça a tendência de “onshoring” da produção de aço depois de anos de dependência de importações asiáticas. A capacidade anunciada equivale a cerca de 3% do consumo doméstico, suficiente para abastecer setores automotive, de eletrodomésticos e construção naval que buscam reduzir exposição a variações cambiais e risco geopolítico. No entanto, o aumento da oferta pode pressionar preços regionais, afetando margens de competidores como Nucor, Cleveland-Cliffs e ArcelorMittal EUA. O uso de fornos elétricos também intensifica a disputa por certificados de energia renovável, tornando o custo de carbono um diferencial competitivo adicional.
O plano da Nippon Steel nos EUA integra-se a uma estratégia mais ampla de internacionalização: Índia e Tailândia foram mencionados como mercados prioritários para expansão, enquanto o Japão lida com contração de demanda e entrada crescente de aço importado. O risco cambial do iene, aliado à volatilidade do preço da energia nos EUA, pode afetar o retorno sobre o capital investido; por outro lado, a empresa poderá capturar benefícios do Inflation Reduction Act e de créditos federais para produção verde. Para investidores e estados interessados, o projeto representa um balão de ensaio sobre a viabilidade de novos “mega-greenfields” siderúrgicos em território norte-americano, num momento em que a transição energética redefine custos e fontes de financiamento de infraestrutura industrial.